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Nosso adeus e homenagem ao grande ativista Jorge Beloqui

Morreu na madrugada desta quinta-feira (9), na Argentina, o grande ativista Jorge Adrian Beloqui, doutor em Matemática e diretor do Grupo de Incentivo à Vida (GIV).

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Adrian Beloqui

Agência Aids
09/03/2023

Morreu na madrugada desta quinta-feira (9), na Argentina, o grande ativista Jorge Adrian Beloqui, doutor em Matemática e diretor do Grupo de Incentivo à Vida (GIV). Entusiasta da luta contra a aids, sua militância começou no início da epidemia, depois de descobrir, em 1989, que havia se infectado com o HIV.

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Adrian Beloqui | Foto: Arquivo

O militante foi um dos fundadores da ONG Pela Vidda (Valorização, Integração e Integridade do Doente de Aids), em São Paulo. Seu ativismo era pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids, pelo acesso a medicamentos menos tóxicos, pela saúde pública e o direito das pessoas serem que são, sem discriminação.

Em paralelo ao ativismo, Jorge Beloqui lecionava no Instituto de Matemática e Estatística da USP. Sua morte comoveu militantes de todo o Brasil.

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Jorge Beloqui em Washington-EUA para encontro com congressistas americanos sobre a questão das patentes | Foto: GIV

Ao longo dos últimos 33 anos, sua atuação em defesa das populações mais vulneráveis foram marcas que deixaram imenso impacto na luta contra a aids no Brasil e na América Latina. Quando o assunto era acesso à medicação, Jorge era o consultor do Movimento Social. Vinculado a ABIA (Associação Interdisciplinar de Aids) desde sua fundação, ajudou a fundar a RNP+ Brasil, em 1995; também está entre os fundadores do Movimento Paulistano de Luta contra a Aids (Mopaids).

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Beloqui com seus companheiros do GIV | Foto: GIV

Nacionalmente representou a RNP+Brasil no Grupo Temático do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). No âmbito internacional, acompanhou de perto as discussões sobre patentes de medicamentos.

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Jorge Beloqui (esq.) e Eduardo Barbosa (centro) em ação pelo Fórum de ONGs/Aids de São Paulo | Foto: Arquivo

Questionador e bem articulado, Jorge esteve presente nas grandes lutas pela saúde pública nas últimas décadas. “Neste momento faltam palavras para expressar a grande tristeza pela perda do querido amigo Jorge Beloqui. De longa data, sempre presente em nossas vidas pelo seu acolhimento e envolvimento e estimulo ao ativismos e militância. Esteve presente em muitas organizações e redes, como fundador, professor e estimulador de novos caminhos para enfrentar os entraves no caminho pelos Direitos Humanos da não discriminação e preconceito e na busca por tecnologias capazes de trazer melhoras na atenção em saúde, em especial, para a aids, tuberculose e hepatites virais. Fica a certeza de que seu legado estará sempre em nós, Jorge Beloqui sempre Presente”, disse emocionado Eduardo Barbosa, presidente do Mopaids.

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Beloqui e Cláudio Pereira em manifestação durante a Conferência Internacional de Aids de Washington, EUA. | Foto: GIV

“Jorge foi um árduo batalhador, sempre pautou sua atuação de maneira extremamente ética e coerente. Perdemos um grande amigo”, lamentou o presidente do GIV, Cláudio Pereira.

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Jorge Beloqui, Cláudio Pereira e Eduardo Barbosa em Audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal | Foto: GIV

A cerimônia de despedida de Jorge será na Argentina, ele estava em seu país de origem visitando a família. Em São Paulo, ativistas do Movimento Aids vão se reunir nesta quinta-feira (9), na sede do GIV, na Vila Mariana, em um ato em homenagem à memória de Jorge Beloqui.

Confira a seguir as homenagens de amigos e ativistas de todo o Brasil:

José Carlos Veloso, da Rede Paulista de Controle da Tuberculose
“O mundo perde hoje um dos maiores ativistas na luta contra aids, deixa um legado de conhecimento e controle social no campo das pesquisas em HIV.”

Marta McBritton, presidente do Instituto Cultural Barong
“A comunidade latino-americana perdeu hoje uma das pessoas mais importantes do movimento social ligado ao HIV. Beloqui, ativista incansável com seu humor portenho e sotaque inconfundível, defendeu milhares de PVHA. Aprendi muito com ele, a facilidade com que traduzia as pesquisas, estudos e afins no Boletim Vacinas, sempre me impressionou. Neste momento de reconstrução da política nacional de Aids, fará muita falta. Honrar seus feitos é seguir lutando.”

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Beloqui | Foto: Arquivo

Roseli Tardelli, diretora da Agência Aids
“Um dos ativistas mais sérios e comprometidos que conhecemos. Absolutamente correto e dedicado a causa. Jorge Beloqui não media esforços e trabalhou incansavelmente para o bem-estar das pessoas vivendo em São Paulo, no Brasil e no mundo. Nossos sinceros sentimentos à família e aos amigos. Fará falta entre nós.”

Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONGs/Aids de São Paulo
“É uma perda irreparável não só para o movimento de luta contra a aids, mas também na resposta brasileira ao enfrentamento da epidemia. O Jorge era muito colaborativo nas discussões, principalmente nas questões mais técnicas de acesso ao tratamento com qualidade. Foi um lutador incansável para melhorarmos essa questão da qualidade e do acesso ao tratamento. Além da sua qualidade de estudar e pesquisar, isso contribuía muito para qualificar as ações de controle social do movimento de luta contra a aids. Particularmente, várias vezes, em muitas questões técnicas, consultava o Jorge e pedia o seu auxílio. Enquanto Foaesp, demos um subsídio qualificado para fazermos as cobranças de implementações de políticas junto ao governo. É uma perda irreparável, não temos hoje no Brasil um ativista no perfil e na qualidade do Jorge Beloqui.”

Américo Nunes Neto, do Instituto Vida Nova
“Bigodon, era assim que eu o chamava em nossas conversas. É com muito pesar que recebo a notícia de sua partida. Infelizmente não houve possibilidade de despedida. Fico com as memórias boas e com as nossas divergências políticas que sempre foram respeitosas. Com o Bigodon aprendi muito, assim com milhares de pessoas com HIV/aids em suas oficinas sobre medicamentos, vacinas e manifestações políticas. Uma perda muito grande para o ativismo brasileiro. O seu legado será enaltecido sempre. Que o plano espiritual conforte os familiares e amigos. Jorge A. Beloqui, presente!”

Jorge Adrian Beloqui
Rubens Duda, Américo Nunes, Cláudio Pereira, Jorge Beloqui, Patrícia Perez e Walter Mastelaro Neto na inauguração do CTA José Araújo Lima Filho. | Foto: Mopaids

Nair Brito, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
“Hasta luego, amigo Jorge. Hoje soube que você nos deixou. E no seu melhor estilo: em Buenos Aires. Quem sabe, ao som de um bom tango. Você, amigo Jorge, não era nada comum. Bigodes grossos e sempre bem cuidado, alinhado no vestir, acertivo no falar e agir. Sua voz e comando no ativismo sempre foram ouvido, respeitado e aplicado. Fará falta, e muita. Ninguém mais além de você sabia tanto sobre vacinas. O boletim, publicado regularmente por meio do seu empenho e competência, parceria do GIV, ficará órfão, porquê você era a voz que ecoava nesse tema. O seu ativismo coerente e vibrante ajudou a construir respostas a epidemia de HIV/Aids no Brasil. Obrigada por escolher o Brasil pra viver e lutar pelo preconceito e injustiças. Grande amigo. Sinto já tanto a sua falta. Contudo, sei que quando amamos alguém nós desejamos que ela tenha o melhor, e parece que agora você precisava descansar né. Fará falta, disso sabemos. Tantas contribuições suas na luta da aids, que por certo seu nome ecoará sempre entre nós ativistas, e no contexto dessa epidemia. Foi grande honra dividir esses 30 anos de luta contra a aids ao seu lado, velho amigo. Hasta luego!”

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Beloqui e Betinho Pereira durante a Conferência Internacional de Aids em Amsterdã, HOL. | Foto: Arquivo

Betinho Pereira, presidente do Projeto Bem Me Quer
“Vai com Deus querido gigante…. Meu amigo querido que notícia triste nos trazem. Dificil acreditar em sua partida tão inesperada, em viagem a Buenos Aires. São 30 anos juntos na jornada incansável pela vida e Direitos Humanos. Sua inteligência, sabedoria, conhecimento teórico e científico ajudou decisivamente na luta contra aids. Me lembro que quando o governo questinou os custos do acesso universal e gratuito aos medicamentos contra aids você, um mestre em matemática, diga-se professor da USP, criou uma cartilha, uma tese estatística, que fazia a intrincada conta dos custos do tratamento versus custos com hospitalização e morte por aids. Essa sua cartilha foi decisiva pro acesso universal. Das nossas lutas a favor das pré-existente nos planos de saúde, nas quebras de patentes. Me lembro de sua incansável defesa do I=I desde quando abriram antecipadamente os envelopes do estudo suíço. Pessoas soropositivas indetectáveis não transmitem o HIV. Quantos ENONGS, ERONGS, EEONGS, reuniões do FOAESP, MOPAIDS, quantas manifestações ativistas por todo Brasil e pelo mundo. Paris, Amsterdam, Viena, Praga, Lima… Ahhh meu dileto amigo argentino com coração brasileiro vais deixar um imenso vazio nas nossas trincheiras de luta contra aids. Meu amigo ativista que o inesquecível Miguel Sanches 'a cordobesa' esteja aí na porta do céu te recebendo. Olhe por nós que continuamos caminhando nesse chão de pedras…. RIP Jorge Beloqui!”

Jenice Pizão, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
“Eu o conheci em 1995, em uma reunião do Pela Vidda no Rio de Janeiro, no Hotel Glória. Foi uma reunião aonde ele chamou as pessoas vivendo para pensarem em um movimento específico das pessoas vivendo. Assim começaram as manifestações e foi criada a Rede de Pessoas Vivendo com HIV e Aids. Eu vi aquele cara falar, aquela voz grossa, aquele bigodão dele, pensei 'gente como este cara é inteligente e ele fala direitinho, será que um dia vou ser como ele?' O Jorge Beloqui para mim foi um dos primeiros que me mostrou que era possível, que devemos lutar, estar juntos. Foi um grande professor, foi uma escola. Muito obrigada Jorge Beloqui, você vai estar sempre presente em nossas vidas!”

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Beloqui | Foto: Arquivo

Alessandra Nilo, da ONG Gestos
“Jorge fará muita falta e nos deixa em um momento difícil, no qual precisamos reconstruir o Brasil e nossa resposta ao HIV/aids. Mas tenho muito a agradecer pelos nossos encontros, com ele aprendi muito: a primeira vez que ouvi falar em DRU (desvinculação dos recursos da União) foi por ele, que pacientemente se encostou numa parede do antigo DN, me deu uma aula sobre o tema. A primeira de muitas aulas… sobre vacinas, sobre PI, acompanhamos juntos a evolução do I=I… Ele sempre será esse ser querido, brabo mas amoroso, durão por fora, mas caloroso por dentro. Vai ser muito triste reencontrar o movimento sem identificar aquele bigodão tão lindo entre nós. Ao Mestre… todo meu carinho e saudades. E sinceros sentimentos à família, aos amigos e amigas e ao GIV e à ABIA, suas organizações.”

Jorge Adrian Beloqui
Jorge Beloqui | Foto: Arquivo

Em nota, a Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo também lamentou a morte do ativista Jorge Beloqui:

“Foi com pesar que a Coordenadoria de IST/Aids da cidade de São Paulo recebeu, nesta quinta-feira, a notícia do falecimento do Professor Doutor Jorge Adrian Beloqui, na cidade de Buenos Aires (Argentina).

Jorge Beloqui foi um professor e ativista de destaque na defesa contínua dos direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil. Nascido na Argentina em 1949, assumiu a homossexualidade aos 25 anos, no contexto conturbado de um país conservador e repressivo.

Professor de Matemática, graduado pela Universidade de Buenos Aires com doutorado pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP) e uma densa atuação política no cenário internacional, Jorge Beloqui liderou o GIV – Grupo de Incentivo a Vida, compôs a ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS e a RNP+/Rede Nacional de Pessoas Vivendo com AIDS.

Além de acompanhar o cenário global da resposta à epidemia, Jorge foi representante da sociedade civil na Comissão Municipal de DST/Aids do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo e participou ativamente das Conferências de HIV/Aids realizadas por esse município, sempre avaliando as políticas públicas de saúde a partir da realidade das pessoas.

Entre suas inúmeras contribuições estão a defesa das populações mais vulneráveis e a parceria respeitosa com o poder público municipal a partir da participação popular.

Nossas condolências a todos os amigos e familiares.”

Em nota, o INI/Fiocruz lamenta falecimento do ativista Jorge Beloqui

“O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) manifesta seu profundo consternamento com a notícia do falecimento do ativista Jorge Beloqui - Professor Sênior do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo.

O Movimento de Pessoas Vivendo com HIV/Aids perde um dos mais importantes militantes e promotores de ações de tratamento e prevenção do HIV/aids no país.

Nascido na Argentina, Beloqui dedicou boa parte da sua vida a colaborar na construção de um capítulo à parte no enfrentamento à epidemia no Brasil, atuando em variadas frentes.

Além de ser um dos fundadores do Grupo Pela Vidda, em São Paulo, integrou a direção do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), foi pesquisador do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids-USP e membro do Conselho de Curadores da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids. Também atuou como representante da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV no Grupo Temático do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids e foi editor do Boletim Vacinas Anti-HIV. Ele participou ainda em diversas ocasiões da Comissão Nacional de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais (CNAIDS), do Ministério da Saúde.

Manifestamos publicamente a nossa consternação ao tempo em que estendemos a nossa solidariedade a todos os familiares, amigos, colegas e ao movimento de pessoas que vivem com HIV/aids, na certeza de que Beloqui se perpetuará em nossos corações pelas lutas e conquistas que contribuíram para a construção e solidificação da resposta brasileira ao HIV/aids.”