Agência Aids
14/12/2024
Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi palco de intensos debates e decisões estratégicas no encerramento do 22º Encontro Nacional de Organizações Não Governamentais de Aids (Enong). O evento, que reuniu 122 delegados de todas as regiões do país, culminou na aprovação de moções, escolha de representações e na elaboração de uma carta política que traça os rumos do movimento social de HIV/aids para os próximos dois anos.
Na plenária final, coordenada por Márcia Leão, do Fórum de ONG/Aids do Rio Grande do Sul, os participantes definiram um novo modelo organizacional para a Articulação Nacional de Aids (Anaids). A estrutura será composta por dois fóruns na coordenação política, dois na coordenação executiva e um na coordenação de comunicação. Além disso, foi instituído um conselho com representações de todas as regiões do Brasil, reforçando a descentralização das ações.
Foram aprovadas 18 moções, entre elas, críticas à ausência da Assessoria de Comunicação (Ascom) do Ministério da Saúde no evento e ao Projeto de Lei 10/2022, conhecido como “PL do Plasma”, que promove a comercialização de sangue e derivados. Os delegados também destacaram a importância de garantir o acesso ao medicamento Lenacapavir, utilizado no tratamento de HIV multirresistente, com preço justo e acessível.
Outro ponto que ganhou relevância foi o debate sobre o apagamento da história da resposta brasileira à aids. Eduardo Barbosa, do Grupo Pela Vidda/SP, lamentou o encerramento do site www.aids.gov.br, enquanto Carla Almeida, do Gapa, propôs transformar essa trajetória em patrimônio imaterial nacional. Uma moção solicitando essa medida foi enviada ao Ministério da Saúde, à Frente Parlamentar de HIV/Aids e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O encontro também foi marcado pela escolha de representações do movimento social. Camila Lima, da Rede de Pessoas Trans Vivendo com HIV/Aids (RNTTHP), foi eleita para o Conselho Nacional de Saúde, cuja posse ocorrerá em 16 de dezembro. Cleide Jane Figueiró de Araújo, da Associação Amires, representará o grupo no GT Unaids, pelo Fórum de ONGs/Aids do Rio de Janeiro, enquanto Carla Diana, do Coletivo Feminista Gabriela Leite, e Alana Vargas, da RNTTHP, estarão no Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e de Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS).
O documento final do encontro, batizado como “Carta de Duque de Caxias”, sintetiza os debates realizados ao longo dos três dias. Dividido em seis temas — Atenção e Assistência, Direitos Humanos, Engajamento Comunitário, Financiamento, Determinantes Sociais em Saúde e Comunicação —, o texto apresenta prioridades e estratégias para os próximos dois anos.
Cuiabá, no Mato Grosso, foi a única cidade candidata para sediar o 23º Enong, em 2026. O ativista Clóvis Arantes defendeu a escolha, destacando a necessidade de dar visibilidade à realidade do Centro-Oeste e aos desafios enfrentados na região, como a ameaça de privatização da Chapada dos Guimarães. “A visibilidade do Enong será um impulso para a resistência a esses riscos”, afirmou.
Encerrando o evento, Cleide Jane Figueiró de Araújo, coordenadora do encontro, celebrou a realização do Enong na Baixada Fluminense, pela primeira vez liderado por uma organização comunitária e por uma mulher negra, periférica e vivendo com HIV. “Foi uma oportunidade para que o Brasil conhecesse de perto a realidade de onde a aids e o preconceito atuam de forma mais intensa, servindo de pano de fundo para debates que moldarão nossas ações futuras”, concluiu.
O 22º Enong reforçou o papel do movimento social como protagonista na luta contra a epidemia de HIV/aids, unindo resistência, memória e inovação em prol de políticas públicas mais justas e inclusivas.
Liandro Lindner, especial para a Agência Aids
Agência de Notícias da Aids: https://agenciaaids.com.br/noticia/mais-arte-menos-aids-ativistas-destacam-avancos-na-luta-contra-o-hiv-aids-mas-alertam-para-os-grandes-desafios-que-ainda-precisam-ser-superados