Agência Aids
24/01/2025
Na última quarta-feira (23), aconteceu na sede do GIV (Grupo de Incentivo à Vida), o VII Colóquio de Experiências Exitosas. Esta iniciativa do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta contra a Aids), é um momento em que ONG, grupos e instituições que realizam trabalhos voltados ao enfrentamento do HIV/aids na cidade podem compartilhar suas ações e trocar experiências de sucesso.
Eduardo Barbosa, ativista e coordenador do Mopaids, relatou sua experiência à frente da organização e relembrou um pouco da trajetória do movimento. Ele destacou o papel do Mopaids na articulação de políticas públicas e a importância da integração promovida para conectar as ONG e redes, visando uma resposta mais efetiva em São Paulo.
De acordo com o ativista, entre os avanços conquistados ao longo dos anos pelo Mopaids, está o reconhecimento público de sua atuação, além da manutenção da pauta do HIV/aids na Câmara Municipal, através da Frente Parlamentar de Controle de IST/HIV/Aids e Tuberculose da Câmara Municipal de São Paulo, o diálogo com as coordenadorias regionais de saúde e ampliação de parcerias com outros atores da sociedade.
“Nosso papel é dar visibilidade e apoio, principalmente suporte político, e promover uma incidência para que as políticas públicas melhorem e sejam mais abrangentes”, afirmou o ativista.
No entanto, frisou que os desafios ainda são muitos. Eduardo pontuou, por exemplo, que não basta a conquista de uma frente parlamentar para debater questões relacionadas à epidemia, se a colaboração ainda é praticamente nula e sem comprometimento de mais vereadores e vereadoras. Por isso, “esse colóquio é uma oportunidade importante para buscarmos quebrar a parede da invisibilidade, para que as ONG conheçam umas às outras e suas ações, e saiam daqui mais fortes.”
Durante o Colóquio, diversos projetos foram apresentados como exemplos de ações que têm contribuído para a prevenção e conscientização sobre o HIV/aids, especialmente em comunidades vulneráveis e marginalizadas.
Margarete Preto, do Instituto Cultural Barong, destacou que a instituição busca promover, por meio da arte, cultura e educação, o diálogo sobre sexualidade e a prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), com foco especial na população trans. Durante sua apresentação, ela falou sobre três projetos do Barong: o espetáculo “HIV no Tribunal”, o projeto Art em Casa e a van-consultório.
“Nós temos uma van-consultório que está sempre à disposição. Esse é o nosso carro-chefe para realizar testagem de HIV e ações com profissionais do sexo, pessoas trans e travestis. Trabalhamos com essa população por meio da arte porque o Barong foi fundado em um bar, com a ideia de falar sobre sexualidade como se fosse uma conversa numa mesa de bar. Sem tabu!”, explicou.
O espetáculo “HIV no Tribunal” aborda a criminalização das pessoas vivendo com HIV/aids. Já o projeto Art em Casa é um serviço de entrega de medicamentos antirretrovirais criado durante a pandemia de covid-19 para auxiliar pessoas em tratamento. “Nasceu da necessidade de garantir que ninguém interrompesse seu tratamento por falta de acesso”, concluiu Margarete.
Lídia Lima, educadora e teóloga, está à frente do projeto “Prevenção na Ocupação”, da ONG Koinonia, que atua junto a movimentos de luta por moradia nas regiões da Conselheiro Nébias e Santa Vitória, no antigo Edifício Ouro para o Bem de São Paulo. Lídia falou sobre os desafios de trabalhar com grupos religiosos e vulneráveis, enfrentando o estigma, preconceito e a crescente violência urbana. “Além da distribuição de insumos de prevenção, trabalhamos com materiais informativos, escuta ativa e visitas regulares para criar vínculos com essa população. Percebemos que muitas pessoas não sabem ou têm medo de buscar serviços relacionados ao HIV. Então, nossa abordagem foca em acolher e construir confiança”, explicou.
Já Américo Nunes Neto, presidente do Instituto Vida Nova, ONG com mais de duas décadas de atuação no extremo leste da capital, relatou as ações da instituição, que oferece apoio integral às pessoas vivendo com HIV. Entre os destaques, mencionou o projeto Academia Vida Nova, voltado à saúde física e mental dos atendidos. “Promovemos exercícios adaptados às necessidades das pessoas, especialmente para quem enfrenta condições como diabetes ou hipertensão associadas ao HIV. Isso tem feito uma enorme diferença na qualidade de vida”, ressaltou.
Américo também chamou atenção para o perfil dos atendidos pela ONG, composto majoritariamente por mulheres (66%), com baixa escolaridade e em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “Embora tenhamos realizado várias ações para atrair jovens, ainda encontramos dificuldades em engajar esse público. Nossa prioridade tem sido atender à população idosa, que precisa muito do nosso suporte”, explicou.
Dayana Carneiro, presidente da ONG Bem Me Quer, apresentou o projeto “Minha Quebrada Prevenida”, que foca na prevenção e conscientização em comunidades periféricas, especialmente entre adolescentes e jovens negros, LGBTQIA+, profissionais do sexo e pessoas trans. “O objetivo principal do projeto é combater o preconceito e levar informações sobre prevenção e diagnósticos de HIV, hepatites B e C e outras IST. Criamos com eles espaços de diálogo acessíveis, como lives nas redes sociais, e contamos com jovens de comunidades como Heliópolis e Perus para nos ajudar a mediar essas conversas”, explicou.
Dayana também relatou os desafios enfrentados, como discursos de ódio e desinformação nas redes sociais. “Muitas vezes, publicamos informações importantes e recebíamos respostas negativas, com mitos como a transmissão do HIV por beijo ou picada de mosquito. Sempre que possível, tentamos debater e desconstruir essas ideias, mas isso mostrou que, enquanto falamos de estratégias avançadas, como PEP e PrEP, ainda há muitas pessoas que acreditam em equívocos básicos sobre o HIV/aids”, lamentou.
Jon Diegues, ativista independente e bailarino, compartilhou informações sobre projetos culturais que ele está à frente e que utilizam dança e performance para conscientizar sobre o HIV. O espetáculo “Menino Positivo” aborda os estigmas enfrentados por pessoas vivendo com o vírus. “Nosso objetivo é quebrar paradigmas e levar informações relevantes para regiões da cidade com pouco acesso a esse tipo de discussão. Planejamos dez apresentações em todas as zonas de São Paulo, seguidas por rodas de conversa com o público”, explicou.
Outro destaque foi o espetáculo “Laço Vermelho”, aprovado pelo edital ProAC, que combina dança e performance para narrar histórias reais de pessoas vivendo com HIV, incluindo a do próprio Jon. “Abordamos temas como a realidade de pessoas em situação de rua, a formação de coletivos LGBTQIA+ e o impacto das políticas públicas. Incluímos também Libras para garantir que pessoas surdas vivendo com HIV se sintam acolhidas e representadas”, acrescentou.
Já a advogada Fernanda Nigro, do Grupo Pela Vidda SP e do Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRD Brunna Valin), apresentou o projeto Café com Direito. A iniciativa promove rodas de conversa sobre cidadania e direitos das pessoas vivendo com HIV. “Nosso foco é trazer informações práticas sobre como acessar direitos, regularizar documentos e participar ativamente da democracia. Antes das eleições, realizamos debates sobre a importância do voto consciente, explicando as funções de prefeito e vereador. Após as eleições, retomamos o tema da democracia para reforçar seu papel na garantia de direitos”, destacou.
Os relatos apresentados no colóquio reforçam a importância de iniciativas que combinam inovação, acolhimento e integração para enfrentar os desafios do HIV/aids em São Paulo. O evento reuniu quase 40 pessoas e chegou ao fim com a missão de integrar cada vez mais as iniciativas entre ONG, redes e ativismo.