Mopaids
07/04/2025
Neste Dia Mundial da Saúde, o Movimento Paulistano de Luta contra a Aids se soma às vozes que, em todo o mundo, denunciam o desmonte das políticas globais de saúde e reafirmam o compromisso com a vida, os direitos humanos e a equidade no acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento da aids.
Não podemos silenciar diante do impacto devastador das decisões tomadas pelo governo dos Estados Unidos durante a gestão Trump. A descontinuidade do financiamento da PEPFAR (President's Emergency Plan for AIDS Relief) e o desmonte da USAID, agência que por décadas apoiou ações de saúde pública em países de baixa e média renda, significaram um golpe profundo nas estruturas de combate à epidemia de HIV/aids em diversas partes do mundo.
Milhões de pessoas deixaram de ter acesso a medicamentos, testes rápidos e ações de prevenção – especialmente populações historicamente marginalizadas como pessoas trans, profissionais do sexo, homens gays e outros HSH, além de mulheres negras e jovens em contextos de vulnerabilidade. A política externa americana, pautada pelo conservadorismo e pela exclusão, abandonou compromissos humanitários e produziu consequências concretas: vidas interrompidas pela negligência e pela omissão do Estado.
Esse cenário nos alerta sobre a importância da soberania em saúde e da ampliação de políticas públicas que garantam acesso universal a tecnologias inovadoras.
Enquanto isso, no Brasil, apesar de avanços científicos que nos colocam diante de uma nova era no enfrentamento da aids — com medicamentos de ação prolongada, capazes de facilitar a adesão e transformar radicalmente o cuidado — a população ainda não tem acesso a essas tecnologias no SUS.
Por quê?
Porque os laboratórios que detêm a patente desses medicamentos têm imposto preços inacessíveis e imorais, impedindo que o Estado brasileiro possa incorporá-los de forma justa e sustentável ao Sistema Único de Saúde. A inovação existe, mas segue aprisionada pela lógica do lucro, em vez de estar a serviço da vida.
Essa situação é inaceitável. O Brasil, que já foi referência mundial em acesso universal a antirretrovirais, não pode recuar diante da chantagem da indústria farmacêutica. Precisamos de uma resposta firme do governo brasileiro, com vontade política para negociar preços justos, fortalecer a produção local e garantir a participação social na definição das prioridades em saúde.
O futuro do enfrentamento ao HIV/aids passa pela democratização da ciência, pela incorporação urgente de tecnologias de ponta no SUS e pela retomada de uma política internacional de solidariedade e cooperação.
Seguiremos em luta, resistindo a toda forma de negligência — seja ela nacional ou internacional — e reafirmando que a saúde é um direito e não mercadoria.
Porque a vida não pode esperar. Porque ninguém fica para trás. Porque a luta contra a aids continua.
A luta contra a aids sempre foi, também, uma luta por justiça social. O desfinanciamento global e o negacionismo institucional não nos intimidam – nos fortalecem. Seguiremos mobilizados e vigilantes, em defesa do SUS, da ciência e da vida.