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Mopaids debate envelhecimento com HIV, novas tecnologias de prevenção e entraves nos financiamentos

Reunião destacou desafios do envelhecimento com HIV, inovações como máquinas de dispensação de medicamentos e críticas à burocracia dos editais do Ministério da Saúde.

Representantes do Mopaids e ativistas discutem envelhecimento com HIV, prevenção combinada e desafios nos financiamentos em reunião virtual.
Reunião do Mopaids reuniu ativistas, conselheiros de saúde e representantes da sociedade civil para debater envelhecimento com HIV, tecnologias de prevenção e financiamento de projetos. | Foto: Mopaids

Mopaids
28/08/2025

O Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids (Mopaids), coordenado por Eduardo Barbosa, realizou em 20 de agosto sua reunião ordinária com representantes da sociedade civil, conselheiros de saúde e ativistas para discutir pautas estratégicas relacionadas ao controle social e às políticas de enfrentamento do HIV/aids. O encontro contou com 14 participantes no início, entre lideranças comunitárias, gestores e conselheiros de saúde.

A agenda incluiu: a referenda dos conselheiros eleitos para o Conselho Estadual de Saúde; relatos dos conselheiros estaduais; assuntos regionais; a avaliação da Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; além de uma rodada de informes sobre a política nacional de ISTs/HIV/aids.

Envelhecimento com HIV: desafio crescente

A reunião contou com a participação de Marcus Blum, da Coordenadoria de ISTs da cidade de São Paulo, setor de Articulação com a Sociedade Civil, que apresentou dados sobre as notificações de HIV e aids entre pessoas acima de 50 anos. Embora os números mostrem uma redução ao longo da última década, o recorte revelou a permanência de diagnósticos tardios, principalmente entre mulheres infectadas por meio de seus parceiros.

Os dados também indicaram que, tanto entre homens quanto entre mulheres, a maioria dos casos notificados se concentra na faixa etária de 50 a 64 anos. Para os ativistas, isso reforça a necessidade de estratégias específicas de prevenção e cuidado voltadas às populações 50+, incluindo comunicação adequada e políticas que dialoguem diretamente com esse público.

Políticas municipais e novas tecnologias

Blum destacou os projetos voltados às mulheres, como o Elas por Elas e o Tudo Bom, além da importância das ações de prevenção combinada, como PrEP e PEP.

Outro ponto de destaque foi a expansão das máquinas de dispensação de medicamentos, que além da PEP passaram a disponibilizar antirretrovirais (TARV). Integradas ao aplicativo SPPrEP, essas tecnologias oferecem maior comodidade para usuários que podem retirar a medicação em horários alternativos e em estações de metrô estratégicas. A expectativa é que essa inovação amplie a adesão ao tratamento e reduza barreiras relacionadas ao estigma e ao tempo de deslocamento.

Panorama nacional: metas e desafios

Na rodada de informes, Eduardo Barbosa apresentou os principais dados e metas discutidos pelo Departamento de HIV, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs (Dathi) em reunião nacional. O Brasil soma hoje 1 milhão e 21 mil notificações de HIV/aids, com 979 mil pessoas vinculadas a serviços de saúde e 826 mil em tratamento.

O país está próximo de alcançar as metas globais 95-95-95 do Unaids, com 96% das pessoas em tratamento já com carga viral suprimida. No entanto, permanecem desigualdades marcadas por raça/cor, escolaridade e região, que dificultam o acesso e a permanência no cuidado.

Entre os pontos apresentados na reunião com o Dathi destacam-se:

  • Ampliação do acesso à PrEP, com integração a aplicativos e unidades de saúde;
  • Novas embalagens de preservativos e gel lubrificante, visando maior atratividade;
  • Disponibilização de autotestes de HIV de saliva e sangue;
  • Atualização de protocolos de diagnóstico e tratamento;
  • Estudos multicêntricos sobre HIV/aids avançada;
  • Incorporação futura de novas tecnologias, como o fostemsavir e combinações de bictegravir, em análise pela Conitec.

O departamento também reconheceu a importância de estratégias específicas para o envelhecimento com HIV, incluindo manejo de comorbidades, coinfecção com tuberculose e hepatites virais, e atenção às doenças definidoras de aids.

Críticas da sociedade civil

Apesar dos avanços, os participantes da reunião criticaram a falta de comunicação prévia sobre as reuniões do Dathi, que têm sido divulgadas em cima da hora, limitando a participação da sociedade civil. Também cobraram maior ênfase em políticas voltadas a mulheres, população negra, jovens e pessoas em situação de maior vulnerabilidade social.

Outro ponto polêmico foi a burocratização dos editais de seleção de projetos, em especial aqueles mediados pela OPAS. Diversas organizações denunciaram os entraves criados pela exigência de auditorias externas caras, inviáveis para entidades de pequeno e médio porte. Representantes defenderam que a legislação brasileira deve prevalecer sobre regras externas e que o movimento precisa dar visibilidade a essas dificuldades, inclusive acionando o Ministério Público.

Encaminhamentos

A reunião foi encerrada com a definição de aprofundar, nos próximos encontros, o debate sobre o uso das máquinas de dispensação, o acompanhamento das populações 50+, e a pressão por maior transparência e agilidade nos editais de financiamento. Também ficou evidente a necessidade de fortalecer a comunicação, tanto por parte da sociedade civil quanto do próprio Ministério da Saúde, para enfrentar o estigma, ampliar o alcance da prevenção e garantir a efetividade das políticas públicas.