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Mulheres na Linha de Frente: Lideranças Femininas na Luta Contra a Aids

Mais do que homenageadas em uma data simbólica, elas devem ser reconhecidas e valorizadas todos os dias pelo papel fundamental que desempenham na construção de um futuro mais justo.

Pessoa vestindo camiseta branca aponta para um laço vermelho preso à roupa, símbolo da luta contra o HIV/aids. Foto de diana.grytsku no freepik.com
8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Lideranças Femininas na Luta Contra a Aids. | Foto: diana.grytsku/freepik.com

Agência Aids
07/03/2025

No Mês da Mulher, celebramos a trajetória e o impacto de mulheres extraordinárias que dedicam suas vidas à luta contra a aids e à promoção da justiça social. Elas estão na linha de frente do enfrentamento ao HIV/aids, combatendo o estigma, garantindo acesso à saúde e defendendo políticas públicas mais inclusivas.

Essas lideranças femininas são agentes de transformação que, com coragem e compromisso, desafiam desigualdades e ampliam espaços de cuidado e acolhimento para quem mais precisa. Mais do que homenageadas em uma data simbólica, elas devem ser reconhecidas e valorizadas todos os dias pelo papel fundamental que desempenham na construção de um futuro mais justo.

A seguir, conheça algumas dessas mulheres incríveis e suas trajetórias inspiradoras.

Jenice Pizão - MNCP Brasil

Nascida em Campinas, Jenice Pizão, de 65 anos, é professora de história aposentada, mãe e avó. Recebeu o diagnóstico de HIV em 1990.

O impacto inicial foi avassalador. Naquela época, o preconceito e a desinformação eram predominantes, e os medicamentos antirretrovirais ainda não estavam amplamente disponíveis. Nos primeiros anos após o diagnóstico, Jenice passou a atuar no acolhimento de outras pessoas vivendo com HIV e na disseminação de informações sobre a doença.

Apesar dos desafios, nunca desenvolveu complicações relacionadas ao HIV. É integrante do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP), que há mais 20 anos promove a troca de informações e a melhoria da qualidade de vida de mulheres vivendo com HIV/aids. Em 2023, recebeu o título de Cidadã Emérita pela Câmara Municipal de Campinas, em reconhecimento ao seu ativismo e dedicação à causa.

Dra. Valdiléa Veloso

Carioca, filha de nordestinos, dra. Valdiléa cresceu em uma família adventista. Praticamente toda a sua formação foi em escolas públicas, e ela fez residência médica no Hospital Emílio Ribas, referência na América Latina no tratamento de HIV/aids. A infectologista atuou desde o início da epidemia de aids e presenciou outras emergências sanitárias. Além disso, possui experiência no tratamento da tuberculose e acompanhou de perto os primeiros casos de transmissão vertical do HIV.

No final de 1996, foi convidada para integrar o Programa de Aids do Ministério da Saúde. O convite veio do então diretor do Departamento, Dr. Pedro Chequer, para chefiar a assistência do programa. Ao aceitar o desafio, dra. Valdiléa participou da resposta coordenada à epidemia, tornando o Brasil uma referência global no enfrentamento da aids. Em 2003, retornou integralmente ao INI/Fiocruz, assumindo a direção em 2006. Reeleita em 2009, encerrou seu mandato em 2013, sendo novamente eleita em 2017, permanecendo no cargo até hoje. Com uma trajetória sólida na saúde pública, desenvolve atividades de educação comunitária e difusão do conhecimento científico.

Dra. Valdiléa acompanhou de perto a evolução da epidemia de aids no Brasil e no mundo, não apenas como testemunha, mas como uma combatente incansável. Durante a crise da covid-19, esteve na linha de frente, monitorando o aumento alarmante de casos, enquanto a Fiocruz se mobilizava para atender a população em um momento de extrema incerteza e vulnerabilidade.

Vera Paiva

Filha mais velha de Eunice e Rubens Paiva, Vera enfrentou a dor da perda de seu pai durante a ditadura militar, uma história retratada no filme Ainda Estou Aqui, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva e premiado no Oscar deste ano. Ela é uma aliada histórica na luta contra a aids.

Desde 2014, representa a sociedade civil na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. Psicóloga e professora titular do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP, é doutora e mestre em psicologia social, com pesquisas voltadas para a sexualidade e a prevenção ao HIV/aids. Co-oordena o Nepaids (Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids), grupo interdisciplinar que congrega desde 1991 professores de diversos programas de pós graduação na USP, em outras universidades e instituições públicas de pesquisa, alunos de graduação e pós graduação, dedicados ao ensino, extensão e pesquisa.

Vera se dedica a temas como saúde sexual e reprodutiva, direitos humanos e combate ao estigma contra pessoas vivendo com HIV. Desde os primeiros anos da epidemia, esteve na linha de frente da prevenção e educação sobre o HIV. Atualmente, segue ativa, participando de iniciativas como o projeto Fazendo Arte com a Camisinha, que promove saúde mental e prevenção do HIV/aids entre os jovens.

Dra. Maria Clara Gianna

Iniciou sua atuação na década de 1980, como técnica da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Programa Estadual DST/Aids. Em 2005, assumiu a coordenação do programa, permanecendo no cargo por muitos anos. Seu trabalho sempre teve como objetivo reduzir a vulnerabilidade da população em relação às ISTs, melhorar a qualidade de vida das pessoas com HIV e combater o preconceito.

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo (1985), teve passagens pelo Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids e pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, onde gerenciou políticas públicas voltadas à prevenção e tratamento do HIV. Atualmente, é consultora do Ministério da Saúde, com foco na equidade. Defensora do cuidado integral das pessoas vivendo com HIV, desempenhou papel fundamental na resposta brasileira ao HIV/aids.