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Protesto no Emílio Ribas denuncia fechamento de leitos e descaso com a saúde pública em São Paulo

Fechamento de leitos e abandono das obras no Emílio Ribas expõem crise alarmante na saúde pública de São Paulo.

Profissionais e residentes do Instituto de Infectologia Emílio Ribas caminham segurando faixas durante protesto até a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Profissionais e residentes do Instituto de Infectologia Emílio Ribas durante caminhada de protesto até a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. | Foto: Agência Aids

Agência Aids
22/10/2024

Na manhã desta terça-feira (22), um grupo de profissionais de saúde e manifestantes bloqueou o trânsito em frente ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na capital paulista, em protesto contra o fechamento de leitos e o desmonte da saúde pública. Médicos, residentes, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, ativistas e outros profissionais participaram da manifestação, levantando bandeiras e faixas com mensagens como “Em defesa do SUS” e “Emílio Ribas pede socorro”.

Os manifestantes denunciaram o abandono de obras no hospital, que há 10 anos impede a expansão de leitos. Segundo eles, atualmente apenas 20% da capacidade de internação está em funcionamento. “Há uma década prometeram 300 leitos, mas hoje operamos com menos de 100, e agora mais 38 leitos estão ameaçados de fechamento”, relatou o residente de infectologia Bernardo.

A situação do hospital, referência no tratamento de doenças infecciosas como HIV e covid-19, se agravou com o fim de contratos com organizações sociais que prestavam serviços ao Emílio Ribas. A falta de reposição de profissionais é outro ponto de destaque, já que muitos médicos e funcionários se aposentaram ou foram desligados, sem a convocação de novos concursados.

Residentes do Emílio Ribas seguram faixa com os dizeres 'residência para quem?' durante ato de protesto em frente ao hospital.
Residentes do Emílio Ribas durante ato de protesto em frente ao hospital. | Foto: Agência Aids

Luta pela saúde pública

A dra. Marta Ramalho, infectologista do Emílio Ribas, liderou o protesto e criticou as condições precárias de trabalho e o descaso do governo estadual. Ela lembrou que o prazo para reabertura dos leitos por 60 dias está prestes a acabar, o que deixaria o hospital ainda mais desfalcado às vésperas do Natal. “Essa reabertura temporária não é motivo de celebração. Precisamos de soluções definitivas”, enfatizou Marta.

Outras vozes presentes, como a médica Cláudia Mello, reforçaram a importância de lutar pela valorização do Emílio Ribas e pela conclusão das obras. “Esse hospital é fundamental para o tratamento de doenças infectocontagiosas e precisa de gestão eficiente e comprometida com a saúde pública”, declarou.

Residentes do Emílio Ribas seguram faixa com os dizeres 'só 20% dos leitos em atividade' durante ato de protesto em frente ao hospital.
Residentes do Emílio Ribas durante ato de protesto em frente ao hospital. | Foto: Agência Aids

Representando a enfermagem, Carla destacou a falta de reposição de profissionais. “Estamos perdendo colegas que se aposentam ou falecem, e ninguém é chamado para repor essas vagas. A enfermagem é a base do hospital, e precisamos estar completos para oferecer atendimento de qualidade”, afirmou.

Impacto na saúde pública

O protesto também chamou a atenção para o impacto na formação de novos profissionais e na continuidade das pesquisas. Maria Lúcia, psicóloga do Emílio Ribas, alertou para as consequências da falta de reposição de equipes, o que compromete a transmissão de conhecimento e a qualidade do atendimento. “O Emílio Ribas é uma referência internacional, mas sem novos profissionais e sem investimentos, corremos o risco de perder tudo o que foi construído ao longo dos anos”, disse.

Os manifestantes prometeram continuar a luta pela reabertura dos leitos e pela valorização do hospital, que é um símbolo da resistência do SUS e da saúde pública em São Paulo.

Deputada Estadual pela bancada feminista, Carolina Iara com os profissionais e residentes do Emílio Ribas seguram faixa com os dizeres 'O Emílio Ribas precisa de profissionais para funcionar. Concurso público já' durante ato de protesto em frente ao hospital.
Deputada Estadual pela bancada feminista, Carolina Iara se uniu aos profissionais do Emílio Ribas durante ato de protesto em frente ao hospital. | Foto: Agência Aids

Outras vozes

O ato contou com a presença de Carol Iara, co-deputada estadual pela Bancada Feminista do Psol e ativista que vive com HIV. A parlamentar reforçou a importância do Emílio Ribas para o enfrentamento de doenças infecciosas, como HIV/aids e covid-19. “O meu plano de saúde é o SUS! O Emílio Ribas é um patrimônio que está sendo atacado sistematicamente, principalmente pelo atual governo, mas os ataques já vêm de longa data”, disse Carol. Ela também criticou o fechamento da enfermaria do sexto andar, que considera parte de uma política de privatização sem reposição adequada de serviços. “Querem um apagão no Emílio Ribas, mas a gente não vai deixar!”, afirmou.

Os manifestantes trouxeram elementos simbólicos ao protesto, incluindo um “bolo de desaniversário”, em referência ao atraso nas obras e à falta de investimento no hospital. Eles cantaram “parabéns” em tom de crítica, enquanto seguravam cartazes denunciando a precarização dos serviços de saúde.

A manifestação também teve uma intervenção artística protagonizada por Jon Diegues, bailarino e pessoa vivendo com HIV, que encenou uma performance representando o sofrimento de um paciente agonizando, simbolizando o impacto do descaso com a saúde pública. A apresentação foi seguida por um momento em que o personagem do paciente se transformava em um político, criticando o ataque ao hospital.

Profissionais e residentes do Instituto de Infectologia Emílio Ribas caminham e seguram faixa com os dizeres 'residente não mora no hospital' durante caminhada de protesto até a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Profissionais e residentes do Instituto de Infectologia Emílio Ribas durante caminhada de protesto até a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. | Foto: Agência Aids

Marcha até a Secretaria de Saúde

Após o ato no Emílio Ribas, os manifestantes seguiram até a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Com faixas, apitos e gritos de ordem, eles protestaram contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de saúde, Eleuses Paiva, pedindo diálogo para solucionar a crise. Mesmo sem serem atendidos, os manifestantes mantiveram a manifestação pacífica, enquanto as portas da secretaria foram fechadas e protegidas com pedaços de madeira.

O residente Bernardo destacou que, embora a notícia do fechamento de 38 leitos tenha sido revertida temporariamente, a solução é insatisfatória. “Ninguém aqui está satisfeito com leitos que abrem e fecham a cada 60 dias. Isso não resolve o problema de saúde da população”, afirmou.

A manifestação, que durou pouco mais de duas horas, foi encerrada com um pedido de atenção urgente à crise na saúde pública e uma promessa de continuidade na luta por melhores condições no Instituto Emílio Ribas.

 

Por: Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)
Agência de Notícias da Aids