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Movimentos sociais reforçam papel estratégico no combate às Hepatites Virais em Encontro Nacional

Encontro em São Paulo reúne sociedade civil e gestores de saúde para fortalecer a linha de cuidados e o acesso ao tratamento

Participantes do 1º Seminário Nacional do Movimento Brasileiro de Luta contra as Hepatites Virais em São Paulo, agosto de 2025
Lideranças sociais, especialistas em saúde e gestores públicos durante o 1º Seminário Nacional do Movimento Brasileiro de Luta contra as Hepatites Virais, realizado em São Paulo. | Foto: Mopaids

Mopaids
15/08/2025

Entre os dias 12 e 14 de agosto de 2025, líderes de organizações sociais, especialistas em saúde e gestores públicos se reuniram no auditório da Aids Healthcare Foundation (AHF Brasil), na capital paulista, para o 1º Seminário Nacional do Movimento Brasileiro de Luta contra as Hepatites Virais (MBHV). O encontro aconteceu em parceria com o Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids) e teve como tema “A importância dos movimentos sociais no monitoramento da implantação da linha de cuidados para as hepatites virais”, trouxe à tona avanços, desafios e demandas urgentes para a eliminação da doença no país.

A abertura contou com a presença de representantes de entidades como o MNHV, o Movimento Paulistano de Luta contra a Aids (Mopaids), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs (Dathi/SVSA/MS), além de gestores estaduais e municipais de saúde.

"O Mopaids sente-se honrado em estabelecer esta parceria com o movimento nacional das hepatites virais. Nossas agendas são comuns na perspectiva de eliminação desses agravos, aids e hepatites como problemas de saúde pública. Ampliar nosso leque de parcerias e atuar em conjunto com instituições de todo o país são fundamentais para que possamos ter nossos direitos garantidos", disse Eduardo Barbosa.

Confira o relatório do seminário: clique aqui.

Avanços e lacunas no atendimento

O seminário promoveu mesas temáticas sobre políticas públicas, monitoramento epidemiológico e o papel do ativismo na eliminação das hepatites virais. Dados apresentados pelo consultor técnico José Nilton Neris Gomes revelaram que, entre 2022 e 2025, mais de 73 mil casos foram registrados no Brasil, com cerca de 33% dos pacientes sem tratamento e 3% evoluindo para óbito.

A médica Simone Tenore alertou para o aumento de casos de hepatite A em jovens adultos, ressaltando a importância de ações preventivas e de informação em todas as especialidades médicas.

Vozes da experiência

Um dos momentos mais emocionantes foi o painel de depoimentos de pessoas diagnosticadas com hepatites virais. José Roberto Pereira destacou a importância do acesso a medicamentos de última geração e a pressão social que reduziu custos e permitiu a incorporação dos tratamentos no SUS. Paulo Cesar Guarento, transplantado de fígado, reforçou a relevância do acolhimento humanizado.

Desafios regionais e propostas

Representantes de municípios como São Paulo, Guarulhos e Osasco apresentaram estratégias locais para diagnóstico, tratamento e prevenção. No entanto, a falta de infraestrutura, a carência de profissionais capacitados e a burocracia para acessar recursos continuam sendo barreiras, especialmente em regiões periféricas.

O ativista Jeová Pessim e o médico Bartolomeu Aquino chamaram atenção para o alto custo dos medicamentos e defenderam medidas como o licenciamento compulsório para baratear tratamentos. Já Suzana Nascimento, coordenadora de ONGs no Nordeste, destacou o papel dessas organizações como ponte entre a população e os serviços de saúde.

Panorama global das hepatites virais

De acordo com o Relatório Global sobre Hepatites da Organização Mundial da Saúde, as hepatites virais são responsáveis por cerca de 3.500 mortes por dia, totalizando 1,3 milhão de óbitos por ano — número que empata com a tuberculose como a segunda principal causa infecciosa de morte no mundo. Entre 2019 e 2022, os casos aumentaram de 1,1 milhão para 1,3 milhão, sendo que 83% das mortes em 2022 foram causadas por hepatite B e 17% por hepatite C.

O diagnóstico e tratamento ainda são grandes desafios globais: apenas 13% das pessoas com hepatite B receberam diagnóstico, e 3% chegaram a tratamento. Já a hepatite C apresentou aumento de 36% no diagnóstico e 20% no tratamento, segundo a OMS.

Avanços e desafios no Brasil

No Brasil, os dados são mais animadores. Entre 2014 e 2024, o número de óbitos por hepatite B caiu 50%, passando de 0,2 para 0,1 óbito por 100 mil habitantes. A mortalidade por hepatite C recuou 60%, de 1,0 para 0,4 por 100 mil habitantes, segundo boletim do Ministério da Saúde (julho de 2025). Em 2024, foram registrados 11.166 casos de hepatite B e 19.343 casos de hepatite C.

O avanço é atribuído à ampliação da cobertura vacinal contra hepatite B e ao uso de antivirais de ação direta (DAA) contra hepatite C, que oferecem taxa de cura superior a 95% quando o tratamento é iniciado precocemente. Entre crianças, os progressos também são expressivos: os casos de hepatite A em menores de 10 anos caíram 99,9%, e a transmissão vertical da hepatite B (de mãe para filho) reduziu 55% em gestantes e 38% em crianças menores de cinco anos.

Apesar disso, especialistas alertam para o aumento de casos entre adultos jovens, especialmente homens de 20 a 39 anos, o que motivou a expansão da vacinação para pessoas que utilizam PrEP. No total, em 2024, o país registrou mais de 34.000 casos diagnosticados de hepatite viral e cerca de 1.100 mortes diretas associadas à doença.

Encaminhamentos da plenária final

Na plenária de encerramento, o MBHV apresentou um documento com solicitações ao Ministério da Saúde, incluindo:

  • Revisão da Portaria nº 55/1999, que regula o Tratamento Fora do Domicílio (TFD);
  • Ampliação da capacitação de profissionais de saúde e inclusão do tema hepatites virais na grade escolar;
  • Parcerias com setores da indústria e comércio para ações educativas;
  • Implementação do projeto “Sala de Espera” em unidades básicas de saúde;
  • Fortalecimento do programa Brasil Saudável para combater doenças negligenciadas.

O evento reforçou que, para atingir a meta de eliminação das hepatites virais até 2030, será preciso unir esforços de governos, sociedade civil e setor privado, garantindo acesso universal, diagnóstico precoce e tratamento adequado.

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